
Do Coração do Pastor ao Coração da Ovelha
Jesus contou a história de um pastor que tinha cem ovelhas. Uma se perdeu. Ele deixou as noventa e nove em segurança e partiu em busca daquela única que havia se afastado. Essa imagem simples, mas profunda, revela muito mais do que um episódio rural da vida antiga, ela mostra o coração do próprio Deus.
Na lógica humana, noventa e nove por cento é um bom resultado. Mas para o Pastor da parábola, um só que se afaste já é motivo de partida, de busca, de esforço e de compaixão. Porque a ovelha não é um número. É conhecida. É amada. E está em falta. O cuidado é pessoal.
É exatamente esse mesmo cuidado que o Salmo 23 descreve com poesia e fé: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará". Aqui, Davi não fala de um pastor distante, coletivo ou impessoal. Ele diz: meu pastor. É alguém que guia com intenção, que provê com sabedoria, que protege com força e consola com presença. É alguém que conhece as necessidades da alma e responde com graça.
Quando a ovelha da parábola se perde, ela não sabe voltar. Está cansada, talvez ferida, assustada. Mas o pastor não espera que ela encontre o caminho por si só. Ele vai atrás. Ele encontra. Ele a carrega nos ombros. Assim também no Salmo, Davi declara que, mesmo no vale da sombra da morte, ele não temeria, pois o Pastor está com ele. Não ao longe, mas ao lado.
A vara e o cajado, símbolos do pastor no Salmo 23, não são instrumentos de castigo, mas de direção e segurança. A vara espanta os perigos. O cajado puxa para perto. São expressões do cuidado individualizado. O pastor conhece os caminhos. Sabe onde há águas tranquilas. Restaura a alma da ovelha cansada. Faz repousar em pastos verdejantes.
A parábola termina com festa. O pastor chama os vizinhos e se alegra porque encontrou a ovelha perdida. Da mesma forma, o Salmo termina com esperança: "Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida". A jornada não termina no vale nem na perda, mas na casa do Senhor, onde há segurança eterna.
Juntos, a parábola e o Salmo revelam um Deus que não apenas governa, mas que pastoreia. Que não apenas guia um rebanho, mas cuida de cada ovelha. Que não apenas observa, mas vai ao encontro. Um Deus que chama pelo nome, que caminha junto, que resgata e que celebra. Um Deus que é Pastor, e que jamais se esquece de quem se afastou.
Soraya Mahmud Abdulhamid